domingo, 20 de junho de 2010

Contigo, tenho dias. Dias, em que a habitual indiferença quanto às andanças do teu destino dá lugar a uma precisão urgente, como uma sede de náufrago ou um desejo de grávida. Tenho dias, contigo. Em que és o Sexo e a Palavra, o sítio onde trabalho, a casa onde vivo, o ar que respiro. Em que és o roncar abafado da máquina de café, o correr da chuva no terraço do prédio, a humidade empreguinada da minha rua, refletida no portão de alumínio. Pequenas coisas te desapontam, pode ser o cheiro de outro homem, a declinação de um som ou o teu nome abreviado nos contatos do celular. Pequenas coisas, mas nem por isso aprendi ainda a identificar os sinais: quando você chega, já vou tarde. E então fico quieta, a espera, enquanto passas por mim, ocioso, como um domingo, um passeio dos tristes, uma ida ao supermercado. Contigo tenho apenas dias.

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