quarta-feira, 23 de abril de 2008

Lembras..


De quando pulávamos no campo; da bola a acertar as poças de chuva, a imaginarmo filhos sardentos à beirinha de uma casa de praia bordada a cães rafeiros e sardinheiras, quando nem sabíamos como se faziam filhos. Tu juravas uma qualquer coisa eterna, que não era amor mas também não era eterna e se durasse até ao toque para a aula de matemática já seria muito, seria demais. Davamos as mãos às escondidas e os dedos picavam-se, dormentes, quando os separávamos à pressa ao vislumbre do vigilante, um bruto persistente com bico de águia no lugar do nariz. Valiam os recantos em obras, a casa de banho das meninas, as traseiras do ginásio e a antecâmara da sala de música, onde o mofo nos enluvava as línguas, o escuro soltava-nos a vergonha e nós nos tacteávamos de bocas lambuzadas como chupas e engolíamos o travo acre dos primeiros cigarros do outro.

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